Dessa vez, aluma coisa estranha nas msgs, mas como disse antes, reparei e não liguei para uma coisa tão banal antes de tudo acontecer.
Quando cheguei lá, ela estava encostadinha no muro e logo que me viu veio e entrou no carro.
Todas as vezes os meninos (eu tenho 3 filhos e ela 3 netos) fazem questão de ir buscar a vovó e na hora que ela entra é sempre uma festa, todos gritando VÓÓÓÓ e ela responde toda feliz. Oi meus AMOREEES.
Aí vem a mesma pergunta. Comprou bala? e a mesma reposta. Só pra quem comer tudo no papá...
Mas dessa vez, não teve isso. Quando ela entrou não teve festas, nem dos meninos e nem dela.
Eu que fiquei falando sem parar contando o que tinha acontecido antes dela chegar e ela não falou uma palavra. Achei estranho, mas passou batido.
Quando parei o carro em frente a minha casa, ela falou.
-Filha, eu estou com muita dor de cabeça. Vc tem um remédio pra eu tomar.
-Vou pegar mãe.
Peguei um remédio e um copo de água.
Levei pra ela que estava sentada no sofá e nessa hora eu reparei que no ombro esquerdo dela tinha um hematoma enorme e quase preto de tão roxo.
Perguntei. Mãe o que foi isso?
E ela respondeu. Sei lá filha, deve ter sido na hora que eu caí no banheiro.
Na hora que ela foi beber a água para tomar o remédio ela errou a boca e se molhou inteira.
Eu falei assustada. Mãe você está se molhando. E ela muito aérea olhou pra mim e falou. Molhei?
OBSERVAÇÃO:
Naquele dia era o dia do jogo entre Brasil e Colombia e tínhamos combinado de ver o jogo juntas com as crianças , minha prima sua família e um casal de amigos.
Meu marido estava a trabalho fora do Brasil e por isso eu e ela estávamos organizando tudo aqui em casa. Ela veio mais cedo para me ajudar com os belisquetes.
Meu marido estava a trabalho fora do Brasil e por isso eu e ela estávamos organizando tudo aqui em casa. Ela veio mais cedo para me ajudar com os belisquetes.
Voltando a nossa terrível manhã.
Ela continuou sentada no sofá e nós duas conversando normalmente.
Aí eu falei. -Mãe ontem eu fui no mercado e comprei refrigerante e cerveja para hoje.
Como eu não bebo, comprei essa cerveja como a sua parte do ratatá para o jogo.
Foi quando veio a resposta que fez definitivamente a minha ficha cair e rapidamente juntar todos os fatos até agora acontecidos e achar que alguma coisa realmente estranha estava acontecendo.
Minha mãe respondeu.
- Não filha , eu não quero beber não pq se eu beber, vou ter vontade de fumar e eu não quero fumar nem um cigarro hoje.
Quem conhece a minha mãe sabe qual o tipo de relação ela sempre teve com o cigarro.
Ela não fumava somente, ela era uma amante declarada do cigarro.
Digo era, pq depois disso tudo que estamos passando, cigarro é uma coisa que está abolida de nossas vidas.
Quando minha mãe me deu essa resposta, eu olhei para ela minuciosamente e reparei que o seu lábio superior estava um pouco tortinho. Peguei meu telefone e liguei para minha prima Aline.
- Aline, não sei o que está acontecendo, mas minha mãe está estranha, disse que não quer fumar hoje, se molhou toda com um copo d'água e está com a boca torta.
Em cinco minutos minha prima Aline e meu tio Reynaldo estavam na minha casa . Meu tio levou as crianças para a casa da Aline e eu e Aline fomos para o Hospital Lourenço Jorge , na Barra da Tijuca levar ela.
No carro, minha mãe não conseguia de maneira nenhuma encaixar o cinto de segurança.
Pedi pra ela pegar a identidade dela e ela tentava muitas vezes acertar a mão na bolsa mas ao invés disso ela acertava o ar .
E o pior , ela não percebeu em nenhuma das dezenas de vezes que fez isso, que estava fazendo isso.
Ela achava que estava com os movimentos normais . Eu e Aline começamos a desenvolver uma comunicação por olhares cada vez que minha mãe perdia a coordenação motora , para ela não perceber.
A única coisa que minha mãe falava com toda certeza era que a cabeça dela estava doendo muito.
Chegamos no hospital, fomos informadas que aquele tipo de atendimento era para ser feito na UPA em frente.
Fomos para lá e não estava cheia , acredito que por causa do jogo do Brasil que estava prestes a começar . Logo de cara passamos por uma enfermeira e ela falou a seguinte frase para mim. Esses sintomas são de AVC.
Na hora fiquei nervosa , mas nada de pânico , até pq não imaginava que essa doença era uma doença tão maligna para o doente e toda a sua família .
Acreditem, nada é tão rápido e tão cruel....
Entramos em um consultório que tinham duas meninas que se intitulam como médicas.
Essas duas pessoas sem escrúpulos, sem humanidade e sem a menor condição de exercer esse tipo de profissão com tanta responsabilidade.
Pediram pra minha mãe abrir e fechar a boca, levantar a sobrancelha e piscar forçando os olhos . E esses foram os únicos exames que esses dois monstros fizeram na minha mãe.
Apesar de na frente delas o anel da minha mãe cair no chão e a minha mãe não conseguir de maneira colocar de volta no dedo. Encaixando no ar, eu falar para elas.
-Olha isso? É normal? E a boca dela está torta pq?
Elas falaram que a minha mãe tinha uma crise de cansaço, que a boca estava torta por uma deformação na arcada dentada e mandaram a minha mãe naquelas condições para tomar um Profenide em injeção, nem na veia foi.
E de lá da sala o rapaz que deu a injeção na minha mãe falou.
-Simone pode ir pra casa ver o jogo, nem precisa passar na médica. Vc está liberada.
Foi aí que começou a confusão mental de raciocínio também .
Ela no meio do corredor, olhou pra mim e voltou pra sala de procedimentos.
Eu falei. -Mãe você vai aonde?
E ela respondia. -Bina eu não tomei remédio, olha aqui estou sem soro e minha cabeça ainda está doendo. Eu explicava. - Mãe mas você tomou injeção. Eu vi.
E ela voltou pra sala falando. Não não, eu tenho que tomar remédio, eu não tomei.
Aí o enfermeiro veio, viu nós duas nesse impasse e falou bem alto mas com tom amigável.
- Simone o que foi? Pode ir pra casa Simone. Você está liberada. LI-BE-RA-DA.
Ela olhou para mim totalmente desorientada ainda e eu dei a mão pra ela e levei ela pro carro.
Como ela realmente tinha ido dormir tarde e acordado cedo.
Eu leigamente, que antes disso tudo que estou passando nada sabia sobre AVC.
Achei que poderia mesmo ser confusão mental e uma crise da cansaço.
Mas eu não estudei e nem muito mesmo exerço a função de médica em uma emergência popular que não deve ser incomum a entrada de pacientes com AVC.
Fomos pra casa da Aline, e lá ela deitou e foi descansar como a médica prescreveu. O jogo começou e no primeiro gol do Brasil, ela acordou com a comemoração.
Veio até a sala e me pediu aquela sopa de ervilha que ela fez.
Mas só que essa sopa de ervilha ela tinha feito na semana passada para o aniversário do Marcello .
Ali eu resolvi que não iria ficar falando pra ela que ela estava errando tudo.
Resolvi contornar toda a situação e coloquei minha cabeça, que estava cada vez mais em pânico para funcionar.
O que eu poderia fazer ?
Era pensar numa solução e ver minha mãe.
Passando a pastinha no pão e na mão ao mesmo tempo.
Errar a boca e apertar o pão cheio de pastinha na bochecha e ficar toda suja .
Derramar copo de coca cola no chão e olhar com ar de confusão perguntando se foi ela que derrubou a coca cola no chão com o copinho de lado vazio na mão.
Escutei o Yago falando.
Vó vc colocou o chinelo errado, deixa eu arrumar.
E ela olhar o chinelo errado e falar . Coloquei?
Eu comecei a ligar para todo mundo e explicar que ela não estava legal. Para alguns eu falava . Meu Deus minha mãe está morrendo e eu não tenho como fazer nada.
Foi quando consegui falar com o Neurologista da família do meu marido e expliquei tudo o que tinha acontecido.
Ele perguntou se ela tinha plano. Eu disse que não. Então ele falou.
-Sabrina, vc vai voltar com a sua mãe pro Lourenço Jorge e vai pedir pra fazer uma tomografia nela.
Você vai chegar lá e se preciso colocar a boca no trombone. Se mesmo assim eles não te atenderem , vc me liga que eu vou até lá e vou atender a sua mãe lá.
Eu voltei até ela que estava se deitando de novo , bem quietinha e falei.
-Mãe, vamos comigo no hospital de novo.
Ela disse
- Não Bina eu só quero ir na farmácia comprar uma dipirona. Só preciso disso pra passar essa dor de cabeça.
Insisti um pouco falando pra ela levantar pra ir ao hospital e ela irredutível que só queria tomar a dipirona na farmácia.
Aí eu falei.
- Então mãe levanta e vamos na farmácia tomar a dipirona.
E fomos mais uma vez. Eu, mamãe e Aline para o Lourenço Jorge.
Chegando lá ela brigou que não estava na farmácia.
Aí eu falei pra ela que lá ela ia tomar a dipirona no soro e o efeito seria mais rápido.
Nesse momento, ela começou a reclamar cada vez mais da cabeça.
Quando entramos, na tv da espera o Felipão estava comemorando a vitória do Brasil naquele jogo.
A enfermeira que atendeu ela de manhã estava lá ainda.
Ela olhou pra minha mãe assutada e falou. -Pq ela está fora do hopital?
Eu disse. - Ela foi liberada de manhã.
Então as enfermeiras, me falaram. -
-Olha daqui a 10 minutos é a troca de plantão. Espera um pouco pra ela não ser atendida pelas mesmas médicas.
Nós aguardamos mais meia hora. Pq trocou o plantão e as médicas do horário não chegavam na sala de maneira nenhuma.
Minha mãe reclamava de muita mais muita dor de cabeça.
Eu fazia carinho nela . Beijava a testa dela. Tudo para ver se amenizava aquela dor insuportável que ela descrevia estar sentindo.
Mas nada adiantava.
Eu ia nas enfermeiras, chamamos uma moça da administração e as médicas em fim chegaram.
Começamos a relatar o que havia acontecido durante todo o dia.
Elas perguntaram se minha mãe estava enjoada e ela respondeu um pouco.
Começaram a explicar que iriam pedir uma tomografia para minha mãe .
Mas antes iam passar um digesan para o enjoo e analgésico para melhorar a dor de cabeça.
Nesse momento minha mãe disse que queria ir ao banheiro.
A médica disse. Quer vomitar, vomita na lixeira grande aqui.
Nunca , jamais vou esquecer as próximas cenas que vivenciei dentro daquela sala e vou relatar aqui.
Minha mãe, vomitou muito na tal lixeira, se urinou e quando sentou na cadeira de volta, falou ai minha cabeça está doendo muito, seu corpo começou a tremer para o lado direito e ela teve uma convulsão, ali.
No início nos meus braços.
Eu falei pra médica.
-Olha, ela está passando mal.
E a médica responde.
- Calma eu estou fazendo os procedimentos.
E minha mãe em convulsão na cadeira com a Aline segurando a cabeça dela.
Eu me desesperei.
Abri a porta e comecei a gritar.
-PROCEDIMENTO É O CARA*** ....SOCORRO , MINHA MÃE ESTÁ MORRENDO E PRECISA DE ATENDIMENTO. ALGUÉM AJUDA A MINHA MÃE.
Vieram, todos os enfermeiros, muitos bombeiros do SAMUR e médicos de dentro da emergência. Colocaram a minha mãe ainda em convulsão numa maca e levaram ela para dentro de uma sala , aonde não podemos entrar.
Eu achei que naquele momento, eu teria alguma coisa. Mas não podia passar mal.
Comecei a fazer um respiração mais profunda e calma. E alí começou uma espera de horas que parecia mais toda a minha vida.
Sem saber nem se a minha mãe estava viva lá dentro...
Essa espera eu conto na próxima postagem. Confesso que estou com o coração acelerado, só de contar o que passamos nesse dia...
* ATÉ HOJE NÃO SEI COMO FAZER PARA PUNIR ESSAS DUAS MÉDICAS QUE LIBERARAM A MINHA MÃE . SEM FAZER QUALQUER EXAME .
Façam essa oração para ela!! Simone Bruce Leite